quinta-feira, junho 04, 2009

Capitães de Abril



"Há momentos em que a única solução é desobedecer."
O filme "Capitães de Abril" retrata um suceder de acontecimentos que culmina no Golpe de Estado de 25 de Abril de 1974. Este Golpe de Estado, posteriormente denominado de Revolução dos Cravos, fica para sempre lembrado como uma revolução sem sangue e pacífica. A partir da transmissão "Grândola, Vila Morena" de Zeca Afonso, uma das senhas utilizadas para o arranque da revolução, o MFA (Movimento das Forças Armadas) dirige-se a Lisboa onde ocupa o Terreiro do Paço e, mais tarde o Quartel do Carmo, por forma a destituir o chefe de Governo Marcelo Caetano.
O movimento pacífico desta Revolução levou a que as forças militares responsáveis pelo Golpe de Estado e o povo português se unissem através do descontentamento sentido pelo regime Salazarista.

terça-feira, junho 02, 2009

O Estado Novo, visão do Governo sobre o estado da Nação. (Documentário Sic)




O Estado Novo - a Oposição, a Censura e a intervenção da PIDE. (Documentário Sic)





25 de Abril.

quarta-feira, maio 27, 2009

Bridging the Personal and the Political: Practices for a Liberation Psychology, by Geraldine Moane

"A ponte entre o individual e o político: Práticas para uma Psicologia de Libertação", de Geraldine Moane

O estudo em questão, de 2003, refere-se ao contexto e principais acontecimentos ocorridos na Irlanda: a recorrente colonização pelos Britânicos que envolveu a apropriação de terras e bens, exclusão no poder político, tentativas de erradicação da linguagem e cultura; a segregação da Irlanda em República da Irlanda e Irlanda do Norte; mudanças sociais e políticas resultando em movimentos activistas de vária ordem.
Este artigo, através de investigação literária procura compreender as condições e padrões associados com a opressão e os processos e práticas que ocorrem na libertação. Esta investigação recorre a diversas fontes sobre opressão e libertação, aspectos psicológicos do racismo, homofobia, pobreza e outras dimensões de opressão.

Psicologia da Libertação

É importante referir que a psicologia da Libertação foca sobretudo as condições sociais, particularmente condições sociais opressivas como fonte de problemas psicológicos e enfatiza o empowerment e a transformação social como objectivos de intervenção. De acordo com Bulhan (1985), um tema central da psicologia da Libertação é a necessidade de focar o colectivo invés do individual. Tal é reafirmado por Starhawk (1987): "A psicologia da Libertação foca primariamente as comunidades de onde vimos e criámos. A nossa história colectiva é tão importante como a nossa história individual. A psicologia da Libertação tem uma maior preocupação em como as estruturas de poder modelam e aproximam-nos, invés dos eventos individuais da nossa infância... a psicologia da libertação tem uma maior preocupação sobre as maneiras de criar uma cura e mudança colectiva." Mais, Martín-Baró referiu que a raiz das causas de opressão tem como base a estrutura de uma sociedade - política, económica e cultural. São estas as estruturas que originam a violência, pobreza, stress, discriminação e preconceito - todas estas manifestações de opressão. Desta forma, a psicologia da Libertação terá como objectivo transformar as estruturas sociais de opressão através de acções colectivas.
Outro elemento chave da psicologia da Libertação é a compreensão de que a internalização de opressão é um componente importante na manutenção desta e, um elemento essencial na ligação entre as condições sociais de opressão e os padrões psicológicos associados com esta. Desta forma, certos padrões psicológicos que claramente se relacionam com a opressão e que têm as suas origens em condições sociais de degradação e impotência, actuam como uma barreira para a acção e mantêm a opressão. Daí que, a Libertação deve envolver a transformação dos padrões psicológicos talcomo das condições socais associadas com a opressão.
Naturalmente que os processos e práticas que podem ocorrer da psicologia da Libertação irão variar consoante o contexto em que esta é necessária. A opressão é estruturada de diferentes formas de acordo com os diversos grupos e é experenciada de diferentes maneiras entre os diversos grupos, os quais irão desenvolver diferentes estratégias de transformação dos padrões de opressão em questão.
É necessário, de igual modo, enfatizar que a psicologia da Libertação acompanha aqueles que vivem em condições de opressão, ou seja, trabalham e mantém-se lado a lado os indivíduos que estão sujeitos às condições de opressão e procuram desenvolver relações colaborativas que reconheçam as diferenças de poder a que estão sujeitos (Comas-Diaz et al., 1998).




Sabendo assim um pouco do que a psicologia da Libertação trata e os seus objectivos, este artigo procura aprofundar o desenvolvimento da psicologia da Libertação de três formas:
- Uma análise social que procura perceber as condições sociais associadas com a opressão;
- A identificação de padrões psicológicos associados a opressão;
- Processos e práticas envolvidas na libertação.

Análise Social

O objectivo da análise social, como já foi referido, é identificar as condições sociais associadas com a opressão e de que maneira essas condições estão estruturadas na sociedade. Esta análise identificou 6 padrões que se pensam ser relevantes do ponto de vista da psicologia da Libertação: violência, exclusão política, exploração económica, controlo da sexualidade, controlo cultural e fragmentação. Estes padrões são descritos como mecanismos de controlo visto terem um efeito em manter o domínio através da concentração de recursos no topo da hierarquia, impondo barreiras à mudança e através da internalização da opressão (Fanon, 1967; Bulhan, 1985; Miller, 1986; Jackson and Jones, 1998; Walby, 1997).




Padrões psicológicos associados com a opressão (Internalização da Opressão)

Padrões psicológicos associados com a opressão incluem tensão e ambivalência numa variedade de áreas (sexualidade, espiritualidade, criatividade), sentimentos de inferioridade, desvalorização, emoções intensas e frequentemente negativas (medo, impotência, raiva e vergonha), competição e desconfiança. É possível que para muitos indivíduos o culminar da opressão leve a vulnerabilidade psicológica, particularmente a stress negativo e "loucura" e, conduza ao consumo de substâncias (Duran & Duran ,1995; Fanon, 1967; Hooks, 1993; O'Neil, 1992). Os padrões psicológicos de internalização de opressão tornam particularmente complicado o processo de libertação, ou seja, o processo de organização e tomada de acção é dificultado por sentimentos de desvalorização, baixa auto-estima. Desta forma, é importante transformar os padrões psicológicos negativos de forma a alcançar processos de libertação.
É de salientar que não se tem como objectivo generalizar os achados mas referir que alguns destes padrões podem surgir em indivíduos ou grupos que tenham experimentado formas de opressão.

Processos e práticas envolvidos na libertação

Os processos que conduzirão à libertação, de acordo com a psicologia da Libertação, envolvem a transformação do dano psicológico associado com a opressão e empoderamento dos indivíduos em trabalharem colectivamente de forma a alcançarem a mudança em três níveis: facilitar o desenvolvimento pessoal com o objectivo de transformar os padrões de opressão internalizada; potenciar o envolvimento colectivo e comunitário por parte dos indivíduos; empoderar os indivíduos e grupos na tomada de acção de forma a conduzir à mudança.

Que contribuições a psicologia da Libertação poderia fornecer no Estado Novo?

De acordo com a investigação elaborada neste artigo face à análise social e o padrões psicológicos associados com a opressão, podemos inferir que processos e acontecimentos semelhantes ocorreram durante o período do Estado Novo.
Assim, a psicologia da Libertação poderia por em prática os seus objectivos que anteriormente já referimos. Aspectos como empoderamento e transformação de padrões sociais e psicológicos associados com a opressão de forma a que os indivíduos possam construir ferramentas que conduzam à mudança, facilmente seria aplicável no contexto do Estado Novo.
Porém, é de salientar que os psicólogos teriam que trabalhar em conjunto com os indivíduos sobre a alçada da opressão, o que se tornaria particularmente dificíl visto estes tornam-se mais um alvo da violência, perseguição e opressão que o regime exercia na altura.
Contudo, penso que os contributos que a psicologia a Libertação poderia contribuir no próprio regime, como também, no pós 25 de Abril seriam inúmeros. É possível que, com a implementação das práticas da psicologia da Libertação sobre os padrões psicológicos existentes na altura, poderia ter ocorrido diferentes e melhores mudanças no pós 25 de Abril - o desenvolvimento de uma maior agregação colectiva e comunitária entre os indivíduos através da transformação da alienação e sentimento de impotência, no desenvolvimento de um sentido de tomada de acção e solidariedade.
Ainda assim, falamos apenas de possibilidades do que poderia ter ocorrido se práticas como a psicologia da Libertação pudessem ter contribuído.


(Geraldine Moane, (2003). Bridging the Personal and the Political: Practices for a Liberation Psychology. American Journal of Community Psychology, Vol. 13, Nos. 1/2)

terça-feira, maio 19, 2009

Pequenas vozes que não se ouviam.

Quirino de Jesus, conselheiro de Salazar, antes de morrer, advertiu-o para a necessidade de reformular a Censura que se aplicava, alertando para os benefícios que as críticas poderiam trazer para uma melhor governação:

“Se me agrada tudo que crie um pouco de ideal, temo o desenvolvimento excessivo do poder público que considero útil temporariamente, mas só num tempo curto. A censura é hoje um obstáculo à crítica construtiva. A pretexto de se eliminar a crítica demolidora e maldizente matou-se a crítica fiscalizadora, fez-se o silêncio à sombra do qual medram as mediocridades. Já no poder se vê com maus olhos que tratem cientificamente certas questões só porque as conclusões da ciência não harmonizam com os prejuízos de quem manda. É o abuso do poder, que não tem controle. Isto é mau, é vicioso, desvirtua o espírito público. Como seria útil estabelecer em bases concretas e acomodadas às forças do país, o código regulador da censura! Como está é o arbítrio do poder dos pobres homens que perdem noites a ler os jornais e estragá-los muitas vezes. Há uma crítica construtiva e moderadora dos impulsos hitlerianos e de certos pequenos déspotas. Construir e moderar seria obra de boa imprensa. Estive dois dias no norte a ver escolas (25 e 26) e por lá encontrei casos que justificam o que acabo de dizer sobre a imprensa.”

domingo, maio 17, 2009

O Papel do Psicólogo, de Martín-Baró

Um estudo feito em 1996 intitulado "O Papel do Psicólogo" de Ignácio Martín-Baró, procurou definir o papel do psicólogo centro-americano, num contexto caracterizado por injustiça estrutural, guerras ou quase-guerras revolucionárias e perda de soberania nacional.
Este contexto tem alguns aspectos em comum com o vivido durante o Estado-Novo, aspectos como a injustiça estrutural dado o abuso de poder com a censura e a polícia política, que impedia as guerras ou quase-guerras revolucionárias instaurando o medo na população.

A principal conclusão deste estudo foi de que o psicólogo neste contexto assuma as seguintes posições:
1. Repensar a imagem de si mesmo como profissional, não se cingindo à inércia dos esquemas teóricos já conhecidos ou das formas de actuar habituais, confrontando o saber psicológico com os problemas específicos da população e com as questões que lhe são apresentadas.
2. Assumir a perspectiva das maiorias populares. A sociologia do conhecimento diz-nos que o que se vê da realidade, e como se vê, depende de forma essencial do lugar social de onde se olha. Até ao momento, saber psicológico alimentou-se fundamentalmente de uma análise dos problemas realizada a partir da perspectiva dos sectores dominantes da sociedade, não sendo assim possível que se alcance uma compreensão adequada dos problemas mais profundos que atingem as maiorias populares.
3. Talvez a opção mais radical com que se defrontava a psicologia centro-americana estivesse na alternativa entre aceitar, ou não, o acompanhamento das maiorias pobres e oprimidas na sua luta por se constituírem como um povo novo numa terra nova, não se tratando de abandonar a psicologia, mas sim de colocar o saber psicológico a serviço da construção de uma sociedade em que o bem estar dos menos não se faça sobre o mal estar dos mais, em que a realização de alguns não requeira a negação dos outros, em que o interesse de poucos não exija a desumanização de todos.


Até que ponto se poderá este estudo aplicar ao regime Salazarista?
A 1ª conclusão deste estudo creio que seria aplicável a qualquer contexto social em que esteja inserido um psicólogo. Um abandono de esquemas teóricos e enfrento da realidade seria assim perfeitamente aplicável ao nosso estudo.
A 2ª conclusão poderia levantar alguns problemas para os psicólogos. Com a polícia política perseguindo qualquer um que se opusesse ao sistema, ao assumir a perspectiva das maiorias populares os psicólogos estariam possivelmente a encorajar uma revolução, sendo assim esta conclusão aplicável ao nosso caso, porém de certa forma perigosa para quem a exercesse.
Por fim, a 3ª conclusão iria de encontro à 2ª, tanto na sua possível aplicabilidade como nos seus possíveis problemas

Concluindo, a existência de psicólogos com uma posição equivalente à que sugere este estudo, poderia por um lado antecipar a revolução do 25 de Abril, ou por outro lado não ter qualquer efeito, dado que os psicólogos seriam mais um grupo controlado pelo governo, não conseguindo assim exercer sequer esta posição sugerida.


(Martín-Baró, I. (1996). O papel do Psicólogo. Estudos de Psicologia, 2(1), 7-27)

quinta-feira, abril 09, 2009

Psicologia da Libertaçao

A Psicologia da Libertação providencia uma análise do dano psicológico associado com a opressão. Procura desenvolver praticas que transformem padrões psicológicos negativos, e facilitar a tomada de medidas em relação a alterações sociais.

Psicologia da Libertação concentra-se no impacto nas condições de opressão social, como violência, tortura, pobreza e racismo num funcionamento psicológico, indo desde o self e identidade até à criatividade e espiritualidade. Psicologia da Libertação deseja não apenas o empowerment de indivíduos presos em ambientes não saudáveis e desumanos como também resistir a opressão e trazer mudanças sociais através de reformas sociais e politicas. Psicologia da Libertação é específica no contexto e esta assente em experiencias reais de injustiça social, opressão e libertação.

(Moane, 1999, cit. in Costigan, 2004)

Psicologia da Paz


Psicologia da Paz é o termo traduzido à letra de Peace Psychology, dado que não existe termo em português até ao momento.

A Psicologia da Paz surgiu no final dos anos 80, no período pós Guerra-Fria, no entanto ao longo de todo o séc. XX, psicólogos tem estado interessados em termos como conflito social e violência.

A Psicologia da Paz procura desenvolver teorias e praticas com o objectivo de prevenção e mitigação da violência directa e estrutural. Enquadrada positivamente, a Psicologia da Paz promove uma gestão não violenta de conflito (peacemaking) e de alcance da justiça social(peacebuilding).

(Christie, Wagner, & Winter, 2001)