domingo, maio 17, 2009

O Papel do Psicólogo, de Martín-Baró

Um estudo feito em 1996 intitulado "O Papel do Psicólogo" de Ignácio Martín-Baró, procurou definir o papel do psicólogo centro-americano, num contexto caracterizado por injustiça estrutural, guerras ou quase-guerras revolucionárias e perda de soberania nacional.
Este contexto tem alguns aspectos em comum com o vivido durante o Estado-Novo, aspectos como a injustiça estrutural dado o abuso de poder com a censura e a polícia política, que impedia as guerras ou quase-guerras revolucionárias instaurando o medo na população.

A principal conclusão deste estudo foi de que o psicólogo neste contexto assuma as seguintes posições:
1. Repensar a imagem de si mesmo como profissional, não se cingindo à inércia dos esquemas teóricos já conhecidos ou das formas de actuar habituais, confrontando o saber psicológico com os problemas específicos da população e com as questões que lhe são apresentadas.
2. Assumir a perspectiva das maiorias populares. A sociologia do conhecimento diz-nos que o que se vê da realidade, e como se vê, depende de forma essencial do lugar social de onde se olha. Até ao momento, saber psicológico alimentou-se fundamentalmente de uma análise dos problemas realizada a partir da perspectiva dos sectores dominantes da sociedade, não sendo assim possível que se alcance uma compreensão adequada dos problemas mais profundos que atingem as maiorias populares.
3. Talvez a opção mais radical com que se defrontava a psicologia centro-americana estivesse na alternativa entre aceitar, ou não, o acompanhamento das maiorias pobres e oprimidas na sua luta por se constituírem como um povo novo numa terra nova, não se tratando de abandonar a psicologia, mas sim de colocar o saber psicológico a serviço da construção de uma sociedade em que o bem estar dos menos não se faça sobre o mal estar dos mais, em que a realização de alguns não requeira a negação dos outros, em que o interesse de poucos não exija a desumanização de todos.


Até que ponto se poderá este estudo aplicar ao regime Salazarista?
A 1ª conclusão deste estudo creio que seria aplicável a qualquer contexto social em que esteja inserido um psicólogo. Um abandono de esquemas teóricos e enfrento da realidade seria assim perfeitamente aplicável ao nosso estudo.
A 2ª conclusão poderia levantar alguns problemas para os psicólogos. Com a polícia política perseguindo qualquer um que se opusesse ao sistema, ao assumir a perspectiva das maiorias populares os psicólogos estariam possivelmente a encorajar uma revolução, sendo assim esta conclusão aplicável ao nosso caso, porém de certa forma perigosa para quem a exercesse.
Por fim, a 3ª conclusão iria de encontro à 2ª, tanto na sua possível aplicabilidade como nos seus possíveis problemas

Concluindo, a existência de psicólogos com uma posição equivalente à que sugere este estudo, poderia por um lado antecipar a revolução do 25 de Abril, ou por outro lado não ter qualquer efeito, dado que os psicólogos seriam mais um grupo controlado pelo governo, não conseguindo assim exercer sequer esta posição sugerida.


(Martín-Baró, I. (1996). O papel do Psicólogo. Estudos de Psicologia, 2(1), 7-27)

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